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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

100 anos aquela noite.

Vocês conhecem a lenda. Início da década de quarenta. Como toda lenda, não existe uma data mais específica que "inicio da década...". JK pede a Niemeyer para projetar o conjunto da Pampulha em 24 horas. Ele topa. Ele faz. É essa a minha singela contribuição à palpitaria nacional: ali nasceu Niemeyer, alucinado, sem tempo para pensar melhor no que estava entrando, amassando papéis freneticamente em uma escrivaninha de hotel.
Tivesse pensado melhor, tivesse mais tempo para pensar melhor, talvez não topasse. Isso é loucura, seu Juscelino. Precisa mais tempo. Precisa mais gente. Como é que o senhor vai me contratar assim, do nada? Ou simplesmente nem questionasse aquela insanidade, hoje a noite, desculpe, o pessoal vai em casa jogar biriba. Naquela época se jogava biriba, segundo a lenda. Passa amanhã, jotaká.
Mas vocês conhecem, além da estória, a história, e o resto - e que resto - foi conseqüência. Você, que reclama diuturnamente da reserva de mercado que ele impôs ao Brasil, toparia projetar sozinho, com a verba que quiser, todos os prédios da nova capital do seu país? Mais, ia ficar à vontade o suficiente para desenhar estruturas colossais que ninguém sabia ainda como por de pé?
Claro, Niemeyer sempre foi corajoso - já havia até passado um pito público em Le Corbusier durante o projeto do MEC - mas aceitar a escala de Brasília, de obra e de responsabilidade, só parece humanamente possível para alguém que já tivesse experimentado algo parecido, como em Pampulha.
Daí o resgate daquela noite em Minas. Seja porque não teve tempo pra pensar - ou, bem, porque arquitetos na casa dos 30 anos fazem verdadeira loucuras para arranjar trabalho - o fato é que naquele quarto de hotel mal iluminado (well, lenda é lenda) nos idos da década de quarenta, o cara (não) foi dormir Oscar, mas acordou Niemeyer.
Que aparentemente vive feliz, e para sempre.

Alberto Barbour, architecture.blogger.com.br